Incendiário? Bardamerda!
Só para os mais desonestos, ingénuos ou distraídos é que acreditam que o futebol português é um poço de virtudes onde aterrou agora um presidente como pedra no charco. De facto, só quem tenha menos de 15 anos, sem qualquer acesso à internet ou tenha estado em sono criogénico desde os anos 80 é que pode acreditar nos que apontam como inéditas, extraordinárias e simultâneamente perniciosas as ondas de choque desse pedregulho BdC no pântano e lodaçal que é o campeonato português.
Todos os outros, os que já nem se surpreendem com o facto de haver presidentes da APAF a nomear árbitros à conveniência de certos clubes, as constantes denúncias de árbitros que foram colocados de lado e que denunciam a postura servil, os que viram árbitros com um belo bigode a correrem de costas à frente de jogadores para não serem agredidos por terem assinalado falta, os que ouviram as escutas, os que assistiram atónitos ao campeonato do Túnel, aos que viram sonegado uma Taça da Liga graças a um auxiliar que viu da outras ponta do campo uma mão no peito do jogador que se encontrava de costas para ele, e logo a seguir, a conferência de imprensa de um dirigente desse clube a salivar, orgulhoso, para cima do dito troféu sonegado, o Dolo sem Intenção pelos mesmos que arquivaram agressões no mesmo jogo onde instauraram um sumaríssimo ao Slimani nunca visto em provas organizadas pela Federação, porque os estatutos não prevêem, a oferta de vouchers para almoços de luxo a árbitros, auxiliares e observadores. É fartar vilanagem. Já para não falar no discurso truculento característicos de Pinto da Costa e Luis Filipe Vieira, ou das acções em que invadiam estúdios de televisão ou que eram filmados em directo a ameaçar polícias no exercício das suas funções.
Perante este estado de coisas, que fazer?
– Resignação, relativizar, encolher os ombros e desistir? Por aqui passa muito da postura de dirigentes do Sporting nas décadas anteriores. A postura institucional, se quiserem. A da ovelha. Fomos tosquiados.
– Juntarmo-nos a eles? Usar os mesmos métodos? Os pergaminhos leoninos não são estes. Orgulhamo-nos, felizmente, de não constarmos em escutas, e de o único caso ligado ao clube, embora não com intenção de nos beneficiar, apenas de denúncia caluniosa, ter sido rapidamente resolvida com a demissão do vice-presidente. Noutros clubes, ainda lá andava e com funções alargadas… Não, isso não é o Sporting Clube de Portugal.
– Não compactuar, denunciar à exaustão, não deixar o assunto cair. É a postura da presente direcção.
Costumava dizer Winston Churchill que a Democracia é o pior sistema de governo, à excepção de todas as outras. Pois, a postura da direcção leonina é a pior possível, excepto resignarem-se ou juntarem-se a eles nos métodos.
Façam, aqui, uma pausa para imaginar o Bruno de Carvalho a resignar-se a entregar silenciosamente o Sporting às migalhas que sobrassem da mesa de Porto e Benfica. A estar pacificamente a 10 pontos da liderança à 4ª jornada. Ou em alternativa, a dar uma camisola Peyroteo com uns miminhos em ouro lá no meio ao árbitro antes dos jogos. Ficam desconfortáveis? Pois.
Sinceramente, eu prefiro assim. Uma direcção que, em coro, denuncia as más práticas adversárias. Não o faz por interpostas pessoas colocadas na comunicação social, com quem tem jantares sistematicamente para organizar estratégia e entregar a cartilha. Não. Fazem-no em discurso directo. Como as pessoas com postura vertical devem fazer.
É incendiário? É. Sejamos honestos, é. Deve ser. Tem que ser. Bem sei que pela maioria dos portugueses o 25 de Abril não se teria feito. Era melhor estar quieto e calado. Não fazer ondas. E foi preciso uma classe de jovens oficiais que queriam, exigiam, porque sabiam ser possível haver mais e melhor para si e para os seus, que se fez a Revolução dos Cravos. Como seria Portugal se se tivessem resignado ou juntado ao regime?
Bardamerda!
Mas quando se produz este tipo de discurso, não pode considerar-se que é pressão sobre os árbitros?
Pressão sobre os árbitros? A voz modulada de Bruno de Carvalho faz as pernas dos árbitros tremer? Os mesmos árbitros a quem, assegura toda a gente, a oferta de 4 jantares de luxo no Museu da Cerveja não fazem vacilar um milímetro que seja nas suas decisões? Ainda por cima vindo de um presidente que vai para além do seu próprio umbigo ou da gestão do clube e apresenta sugestões para a modernização do futebol internacional, nomeadamente ao se atribuir a ferramenta das novas tecnologias para ajudar os árbitros a decidir? Já para não falar da sugestão para o sorteio dos árbitros, mais uma vez, com o objectivo de eliminar o factor humano das decisões… Veja-se, não são sugestões para que o Sporting saia beneficiado. São para que transparência no futebol no geral.
Mas certamente que é uma pose pouco institucional…?
Meu amigo, no dia em que já não se observe uma série de poucas vergonhas a desfilar à frente dos nossos olhos e seja possível apreciar o futebol no relvado, certamente com a aceitável excepção de um erro do árbitro aqui e ali, perfeitamente normal, será Bruno de Carvalho e toda a direcção leonina os primeiros a ficarem satisfeitos com esse estado de coisas. E a sentarem-se na tribuna ao lado de presidentes cujo discurso e métodos venham com a intenção de valorizar o futebol nacional e a competição. Ou de, pelo menos, não o subverterem e sacrificarem aos seus interesses.
E aliás, veja-se que, em semana que antecede o derbi, o jogo mais intensamente disputado no calendário da liga, ainda mais quando tanto pode decidir a nível de posicionamento no campeonato, em vez de ser fotografado a jantar com avençados na imprensa, ou organizar refeições com ex-dirigentes rivais, o presidente leonino se desloca a Cabo Verde (belíssimo nome) para lançar a inauguração de Academias de Formação e estreitar a ligação com o excelente Sporting Clube da Praia.
É preciso não ser ingénuo. Analisar de onde vêm certas críticas e que interesses têm quem as produz. Eu nunca fui avisado por nenhum rival acerca da qualidade do presidente leonino quando o Sporting flutuava poucos pontos acima da linha de água… Eu nunca fui avisado sobre as finanças (em 3 anos de direcção, creio que é a primeira vez que o clube tem um trimestre no vermelho) quando o clube estava em risco de implodir e se vendeu o melhor ponta de lança (Wolfswinkel) para pagar as contas de água e electricidade. Eu nunca ouvi a imprensa perguntar de onde vinha o dinheiro para contratar Elias (8,8M) ou Pongolles (7M), agora tão preocupados com a origem do dinheiro e o próprio ordenado de Jorge Jesus (5M e a quem espero que tenhamos que pagar o prémio por ganhar o campeonato). Registe-se que Imbula custou 20 M, Danilo 17.8M, Pizzi 14M, 9M por uma perna de Raul Jimenez, perante o silêncio de imprensa, cidadãos e deputadas…
Portanto, calma. Não digo que se aplauda bovinamente e sem espírito critico. Nada disso. O adepto leonino é o mais inteligente, cívico e equilibrado no futebol nacional. Acredito que saiba analisar e chamar a atenção quando a direcção tome más decisões. Tal já aconteceu e voltará a acontecer. É normal e a perfeição não existe. Mas que se aspire a ela e se saiba olhar assertivamente e descontar as opiniões de aqueles a quem faz muito mal o sucesso do Sporting Clube de Portugal.
FONTE. os textos do damas
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